Sergio Fontoura: pesquisas precisam chegar às empresas. Assista ao vídeo!

O Comitê Brasileiro de Mecânica das Rochas produziu e apresenta aqui uma série de entrevistas com alguns de seus ex-presidentes. A iniciativa é parte das comemorações dos 75 anos da ABMS e dos 60 anos do CBMR. O entrevistado desta vez é o engenheiro Sergio Fontoura, ex-presidente do Comitê. A atual presidente, professora Talita Miranda, faz a abertura do vídeo. Assista aqui.
Trajetória
Sergio Fontoura, engenheiro geotécnico e ex-presidente do Comitê Brasileiro de Mecânica das Rochas (CBMR), é uma figura central no desenvolvimento da mecânica das rochas no Brasil e no cenário internacional. Sua trajetória revela uma carreira marcada por desafios, conquistas e um compromisso incansável em conectar pesquisa acadêmica com aplicações práticas, transformando conhecimento em soluções para a indústria e a sociedade.
A jornada de Fontoura no CBMR começou em 2002, quando foi convidado pelo então presidente Roberto Kochen para se candidatar à liderança do Comitê. Ele assumiu o cargo em 2003, iniciando uma trajetória de 21 anos de dedicação. Antes disso, sua relação com o CBMR era como sócio da Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (ABMS), participando de suas atividades.
Logo no início de sua gestão, enfrentou questões administrativas e a necessidade de fortalecer os laços com a International Society of Rock Mechanics (ISRM), a mais importante associação internacional do setor. Em dois anos, ele e sua equipe estabeleceram uma relação sólida com a ABMS e deram os primeiros passos para integrar mais amplamente o CBMR à ISRM, marcando o início de uma gestão voltada para a colaboração e o impacto global.
Um dos momentos mais significativos de sua liderança foi a parceria com a professora Eda Quadros, indicada em 2003 para a vice-presidência da ISRM pela América do Sul. Essa escolha fortaleceu a representatividade do Brasil na entidade internacional e pavimentou o caminho para conquistas futuras, como a eleição de Eda à Presidência da ISRM em 2015, sem oposição — um feito que Fontoura relembra com orgulho.
Sua própria participação na ISRM foi intensa: ao longo de 21 anos, esteve presente em todas as reuniões do conselho, representando o Brasil e, por quatro anos, atuando como vice-presidente.
Afirma, destacando a importância da continuidade no diálogo global.
Criação do RockBowl
Entre os avanços promovidos pelo CBMR sob sua gestão, Fontoura destaca iniciativas que aproximaram a mecânica das rochas de estudantes, profissionais e empresas. Em 2014, uma de suas mais importantes iniciativas foi a criação do RockBowl, uma competição entre alunos lançada no Congresso de Goiânia (GO), que se tornou um sucesso instantâneo, incentivando o engajamento de jovens na área. No ano seguinte, o curso itinerante de mecânica de rochas foi criado para conectar o comitê ao setor empresarial, promovendo aplicações práticas em diversas regiões do Brasil.
No cenário internacional, o CBMR apoiou a criação do Early Career Forum (ECF) da ISRM, voltado a profissionais em início de carreira, com o primeiro evento realizado na África do Sul. Outro marco foi a conquista do direito de sediar o XIV Congresso Internacional de Mecânica de Rochas em Foz do Iguaçu, em 2019, resultado de um esforço iniciado em 2013 e consolidado com a colaboração das comunidades técnicas de Brasil, Paraguai e Argentina. "Foi um trabalho de muitos anos”, reflete Fontoura.
Para ele, a mecânica das rochas é uma disciplina intrinsecamente ligada à geotecnia, embora tenha surgido como um campo distinto devido a necessidades específicas. Nos anos 1950, enquanto a mecânica dos solos dominava a geotecnia, a mineração e a engenharia começaram a demandar estudos sobre rochas, culminando na fundação da ISRM em 1962, após especialistas em rochas serem excluídos da Sociedade Internacional de Mecânica dos Solos.
Hoje, com mais de 9.000 sócios em 60 países, a ISRM desempenha um papel crucial ao reunir profissionais para debater avanços científicos, desafios globais e soluções para projetos como infraestrutura subterrânea e prevenção de desastres naturais. Fontoura vê a entidade como um espaço de inovação e colaboração, essencial para o progresso da área.
Os avanços técnicos na mecânica das rochas, segundo Fontoura, foram impulsionados principalmente pela indústria do petróleo. A partir dos anos 1970, a exploração offshore e a perfuração de poços em condições geológicas complexas exigiram expertise em estabilidade de rochas, tornando a disciplina indispensável. "Hoje, toda grande empresa de petróleo tem especialistas em mecânica de rochas", observa.
Na mineração, ele aponta o desenvolvimento de cavas a céu aberto com mais de mil metros de profundidade como um feito impressionante, enquanto na infraestrutura destaca projetos como o túnel do Canal da Mancha e o túnel Honshu-Kyushu, no Japão. Sua visão reflete a evolução de uma área que combina rigor científico com demandas práticas.
Meio Ambiente e Inteligência Artificial
Fontoura também enfatiza o papel da mecânica das rochas em questões ambientais, como o armazenamento subterrâneo de energia e a captura de carbono (CCS). Ele cita cavernas para gás e hidrogênio em países europeus e a injeção de CO₂ em reservatórios depletados como exemplos de práticas sustentáveis que o Brasil começa a explorar, especialmente por grandes empresas de petróleo. "Essas tecnologias são o futuro para reduzir emissões", afirma, destacando o potencial da área para enfrentar desafios climáticos.
A chegada da inteligência artificial (IA) é outro tema que Fontoura aborda com entusiasmo, mas também com cautela. Ele reconhece o uso de algoritmos genéticos e aprendizado de máquina para otimizar soluções, superando os limites dos modelos determinísticos tradicionais. Contudo, aponta um gap entre o conhecimento acadêmico e sua aplicação prática: muitas empresas de consultoria ainda não adotam as ferramentas mais avançadas devido a custos e acessibilidade. "O desafio é tornar essas soluções viáveis para o mercado", diz, reforçando a necessidade de maior integração entre academia e indústria.
Como pesquisador, Fontoura se define como alguém comprometido em transformar conhecimento em tecnologia aplicável. Ele celebra o impacto de seu grupo de pesquisa, que desenvolveu soluções hoje usadas em todos os poços perfurados pela Petrobras.
No entanto, ele reconhece que a transição entre pesquisa e aplicação precisa ser mais eficiente. Para ele, iniciativas que reduzam a distância entre universidades e o setor produtivo são essenciais para que avanços científicos se traduzam em benefícios concretos para a sociedade e a economia.
A trajetória de Sergio Fontoura é um testemunho de dedicação à mecânica das rochas e à geotecnia. Sua liderança no CBMR fortaleceu a presença do Brasil no cenário global, promoveu inovações educacionais e consolidou parcerias que continuam a moldar a área. Com uma visão que equilibra rigor acadêmico e pragmatismo, Fontoura deixa um legado de impacto duradouro, inspirando novas gerações a enfrentar os desafios de uma disciplina em constante evolução.
Assista ao vídeo completo: