Roberto Kochen: a busca permanente por tecnologias avançadas

Roberto Kochen: a busca permanente por tecnologias avançadas

O Comitê Brasileiro de Mecânica das Rochas produziu e apresenta aqui uma série de entrevistas com alguns de seus ex-presidentes. A iniciativa é parte das comemorações dos 75 anos da ABMS e dos 60 anos do CBMR. O entrevistado desta vez é o engenheiro Roberto Kochen, ex-presidente do Comitê. A atual presidente, professora Talita Miranda, faz a abertura  do vídeo. Assista aqui

Trajetória

Roberto Kochen, engenheiro geotécnico e ex-presidente do Comitê Brasileiro de Mecânica das Rochas (1998-2002), é uma figura central no avanço da mecânica das rochas no Brasil. Sua trajetória reflete uma carreira marcada por aprendizado internacional, inovação tecnológica e um compromisso em modernizar a geotecnia brasileira, trazendo técnicas de ponta para o país e promovendo o desenvolvimento da área em um contexto de desafios estruturais e oportunidades crescentes.

A paixão de Kochen pela mecânica das rochas começou a tomar forma após sua formação em engenharia civil e a conclusão de sua tese de doutorado sobre túneis em solo, em 1989, na Escola Politécnica da USP.

Com a crise econômica da gestão Collor, ele decidiu buscar experiência internacional, o que o levou à Universidade de Toronto, no Canadá, onde integrou o grupo de engenharia de rochas liderado pelo renomado professor Everett Hooke. Lá, Kochen mergulhou em um ambiente de excelência acadêmica, atualizando-se sobre as técnicas mais avançadas da época, como os métodos de elementos finitos e elementos distintos para análise de maciços rochosos descontínuos. Ele também contribuiu para o desenvolvimento de softwares no grupo, incluindo a codificação do S-Wet (Surface Wet), voltado para a análise de escorregamentos em taludes rochosos.

Retorno ao Brasil

Ao retornar ao Brasil, Kochen foi eleito presidente do CBMR, assumindo a missão de trazer esse conhecimento para o cenário nacional. Seu principal desafio foi introduzir metodologias e softwares modernos em um país onde a mecânica das rochas ainda enfrentava limitações técnicas e financeiras. Para isso, ele organizou palestras em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, além de trazer especialistas internacionais, como o professor Loren Lorig, da Itasca, e o próprio Everett Hooke, que ministrou um curso em São Paulo.

 

 

 

 

 

 

Reflete Kochen, destacando o impacto duradouro dessas iniciativas. Apesar de lamentar não ter trazido o professor Bieniawski, outro ícone da área, ele considera que sua gestão conseguiu reativar a mecânica das rochas no Brasil por meio de cursos, seminários e eventos técnicos, mesmo enfrentando a crônica falta de recursos.

Um dos períodos mais marcantes de sua trajetória coincide com o auge da construção de grandes hidrelétricas no Brasil, como Itaipu, que impulsionaram significativamente a mecânica das rochas. Kochen destaca a complexidade da fundação de Itaipu, uma barragem de concreto e terra sobre maciços rochosos com descontinuidades, que exigiu soluções inovadoras, como túneis e galerias quadradas que funcionavam como chavetas para estabilizar a estrutura contra deslizamentos geológicos.

Outras hidrelétricas, construídas em basaltos e arenitos, também demandaram avanços técnicos, consolidando a expertise brasileira na área. Contudo, ele observa que, após o ciclo das hidrelétricas, houve uma "calmaria" na demanda por profissionais, o que foi superado com a introdução de novos softwares e metodologias que revitalizaram o setor.

Durante sua gestão, a relação entre o CBMR e a International Society for Rock Mechanics (ISRM) foi fortalecida, especialmente por meio da atuação da doutora Eda Quadros, conselheira do Comitê na época. Eda trouxe ao Brasil o professor Nick Barton, uma autoridade global, e mais tarde se tornou presidente da ISRM, um marco de orgulho para o Brasil.

Kochen também reconhece a contribuição de outros colegas, como o professor Sérgio Fontoura, da PUC-Rio, e Eurípedes Vargas, que enriqueceram o CBMR com palestras e cursos. Para ele, a troca de conhecimento por meio de eventos técnicos e publicações é a essência do comitê, e a conexão com a ISRM sempre foi positiva, um legado que persiste.

Mecânica das Rochas no Brasil

Ao refletir sobre a evolução da mecânica das rochas no Brasil desde sua presidência, Kochen identifica avanços significativos, mas também desafios pendentes. Ele aponta que o país se destacou na adoção de metodologias e softwares, amplamente utilizados em obras em rocha, mas lamenta o fechamento ou a obsolescência de muitos laboratórios de ensaios, um gargalo para a pesquisa experimental.

Entre os projetos que ilustram o progresso da área, ele cita o túnel Gastau, construído entre 2008 e 2012 com tuneladora, uma inovação para o Brasil, e a caverna subterrânea da usina de Serra da Mesa, com mais de 60 metros de altura em rocha sã. Kochen também destaca o impacto ambiental positivo de obras como o Metrô de São Paulo, que reduz emissões ao diminuir o tráfego, e as tuneladoras de pequeno diâmetro para saneamento, que melhoram as condições urbanas.

Para Kochen, o CBMR desempenha um papel crucial em manter a mecânica das rochas relevante, especialmente em um contexto de crescente ocupação urbana, que exige obras em terrenos rochosos. Ele enfatiza que o Comitê é uma ponte para trazer tecnologias modernas ao Brasil, contribuindo para a infraestrutura nacional.

Comparando a engenharia brasileira com padrões internacionais, como o túnel sob o Canal da Mancha, no qual participou, Kochen afirma com convicção:

 

 

 

 

 

Ele defende que o CBMR continue nessa trajetória, promovendo inovação e igualando a geotecnia brasileira às melhores práticas globais.

A história de Roberto Kochen é um testemunho de dedicação e visão estratégica. Sua gestão no CBMR marcou a introdução de tecnologias avançadas, revitalizou a mecânica das rochas em um momento de transição e fortaleceu os laços com a comunidade internacional. Com uma perspectiva otimista, ele acredita no potencial da área para enfrentar os desafios do futuro, desde a modernização laboratorial até a sustentabilidade das obras, deixando um legado de excelência e inspiração para as próximas gerações de engenheiros geotécnicos.

Assista à entrevista completa: