Entrevista com Sergio Augusto Barreto da Fontoura

1.    Mini CV e foto para ilustração da matéria

Sergio Augusto Barreto da Fontoura é graduado em Engenharia Civil pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1972), mestre em Engenharia Civil pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1974) e doutor em Civil Engineering - University of Alberta, Canada (1980). Professor Associado da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro até Janeiro de 2021.

Atualmente atua como Professor do Quadro Complementar. Tem experiência nas áreas de Engenharia Civil, Mineração e de Petróleo com ênfase em Mecânica das Rochas, atuando principalmente nos seguintes temas: geomecânica do petróleo, estabilidade de poços, comportamento de folhelhos, engenharia de reservatório, estabilidade de taludes e escavações subterrâneas. Já orientou creca de 100 alunos de mestrado e doutorado e publicou 194 artigos científicos em Congressos e Periódicos. É Editor de 2 Anais de Congressos Internacionais.

Foi Presidente do Comitê Brasileiro de Túneis no período de 1990 a 1993 e Presidente do Comitê Brasileiro de Mecânica das Rochas (2011-2012, 2013-2014, 2015-2016) e Delegado Votante no Council da International Society for Rock Mechanics. Foi eleito Vice-Presidente da ISRM para a América do Sul para o período 2015 - 2019.

2.    Por que a carreira em Mecânica de Rochas? Qual a principal motivação?

Iniciei a minha jornada profissional em geotecnia nas áreas de solos compactados e obtenção de amostras em argila mole. Foi durante o doutorado na Universidade de Alberta que tive a oportunidade de ser aluno do professor Norbert Morgenstern, que encantava a todos pelo raciocínio lógico em que ministrava as aulas, pela maneira como citava os trabalhos técnicos dos colegas contemporâneos (Bischop, Skempton, Casagrande e Bjerrum) e, também pelas discussões técnicas e seminários organizados com a comunidade científica.  Por fim, a admiração pelo Professor Morgenstern e por se tratar de um desafio novo, escolhi a área da Mecânica das Rochas para desenvolver o meu doutorado e fazer parte da minha vida profissional. Por ser um tema pouco desenvolvido no Brasil naquela época, aproveitei a oportunidade para me especializar em cursos complementares de Geologia de Engenharia, em especial os cursos que participei nos Estados Unidos com o Professor Z. Bieniawski. Ao retornar ao país, logo que surgiu a oportunidade, iniciei o desenvolvimento do tema de Mecânica das Rochas, voltado para a área de Petróleo, ministrando aulas, orientando alunos de pós-graduação, desenvolvendo projetos de P&D, participando da gestão dos comitês científicos e associações nacional e internacional. 

3.    Houve alguma situação inesquecível (ou curiosa/ inusitada) na sua atuação em rochas, que gostaria de compartilhar com o público?

Lembro com carinho de vários momentos durante as viagens que realizei durante a pós-graduação, auxiliando colegas em ensaios de campo e confraternizando com eles pós término exaustivo das atividades. No entanto, o momento que considero mais marcante se deu em 1983, quando passei três meses no Japão, no Instituto de Prevenção de Desastres, na Universidade de Kyoto. Lá adquiri conhecimentos técnicos especialmente na área de rochas brandas. Considero este momento especial pela oportunidade que tive em conhecer o Japão inteiro, de Norte ao Sul, juntamente com um pesquisador e um doutorando (guias e intérpretes que se tornaram amigos), visitando escavações subterrâneas e laboratórios de mecânica das rochas em diferentes localidades. Esta oportunidade abriu minha perspectiva profissional, mas sobretudo, modificou a minha visão pessoal do mundo através da convivência com a cultura japonesa, com a qual me identifico até hoje. Recentemente, contabilizei 54 países que percorri pelo mundo, sempre aliando o conhecimento técnico e a oportunidade de conhecer a cultura do local. 

4.    Como decidiu entrar para a diretoria do CBMR? Quais os seus anseios na condução do comitê?

Ao retornar ao Brasil após o término do doutorado, por afinidade com a mecânica das rochas, procurei o grupo de Geologia de Engenharia que estava atuando na época no projeto e execução da BR 040. Tive a honra de interagir com o professor Josué Alves Barroso do Instituto de Geociências da UFRJ e com o professor Franklin dos Santos Antunes da PUC-Rio nos desafios que surgiram em escavações e estabilidade de taludes em rocha. A partir deste momento me tornei um membro ativo na Associação Brasileira de Geologia de Engenharia, onde organizamos dois congressos nacionais no tema de túneis. A evolução desta jornada se deu com a criação do Comitê Brasileiro de Túneis, em que estive como presidente por quatro anos, sempre muito consciente de que participar de uma associação é de um ganho inestimável e incomparável com o trabalho despendido. Por fim, em 2002 o professor Roberto Kochen me convidou para entrar no CBMR e na sequência, em 2003, representei o Brasil no conselho da ISRM no Congresso Internacional na África do Sul. Esta experiência foi marcante, pois pude interagir com os demais membros da ISRM, estreitar os laços de amizade com a Dra. Eda Quadros e perceber o potencial brasileiro para a divulgação da cultura de mecânica de rochas. A partir deste momento foram várias gestões à frente do CBMR em que procurei sempre convidar pessoas novas para atuar na diretoria. Hoje tenho orgulho do amadurecimento do comitê e da diretoria atual, que passou por diversos cargos nas gestões anteriores, possui experiência (na condução em organização de eventos nacionais e internacionais) e muitas aspirações na condução do comitê.

5.    Deixe uma breve mensagem aos demais associados do comitê.

A mensagem que gostaria de passar é de que tenho muita confiança no grupo atual que está na condução do comitê, pois são pessoas que batalham para a divulgação da mecânica das rochas há um bom tempo. Para mim, o congresso internacional da ISRM em 2019, realizado em Foz do Iguaçu, mostrou o potencial brasileiro de desenvolvimento na área. Fomos o segundo país com maior número de artigos técnicos apresentados, em diferentes áreas. Acompanho e admiro o desenvolvimento dos laboratórios em mecânica das rochas nas diversas universidades brasileiras e dos alunos e profissionais que atuam na área com muita propriedade técnica no assunto. Isto mostra que devemos continuar com o intercâmbio e troca de experiências que estão resultando no desenvolvimento da mecânica das rochas no Brasil. Por fim, vamos continuar fortalecendo e dando continuidade na divulgação da Mecânica das Rochas.