História de Eurípedes Vargas: um legado na mecânica das rochas brasileira

O Comitê Brasileiro de Mecânica das Rochas produziu e apresenta aqui uma série de entrevistas com alguns de seus ex-presidentes. A iniciativa é parte das comemorações dos 75 anos da ABMS e dos 60 anos do CBMR. O entrevistado desta vez é o engenheiro Eurípedes Vargas, ex-presidente do Comitê. A atual presidente, professora Talita Miranda, faz a abertura do vídeo. Assista aqui.
Trajetória
Eurípedes do Amaral Vargas Júnior, engenheiro geotécnico e ex-presidente do Comitê Brasileiro de Mecânica das Rochas (1990-92), tem sua carreira marcada pela excelência acadêmica, a internacionalização do conhecimento e a dedicação à formação de novas gerações. Sua trajetória revela um percurso que combina aprendizado global, contribuições para a mecânica das rochas no Brasil e uma visão crítica sobre os desafios e oportunidades da área, com ênfase na necessidade de inovação e engajamento dos jovens.
Formado em engenharia civil pela Escola de Engenharia de São Carlos da USP em 1971, Vargas encontrou sua vocação na geotecnia, atraído pela mecânica dos solos e pela influência de professores inspiradores. Seu mestrado na PUC-Rio, concluído em 1975, marcou o início de seu interesse pela mecânica das rochas, estimulado pelo orientador Vinod Kumar Garga.
Buscando aprofundamento, ele partiu para o Imperial College, em Londres, onde passou quatro anos e meio, completando um mestrado em 1978 e um doutorado em 1982, ambos focados em mecânica das rochas. Para Vargas, o maior aprendizado no exterior foi "aprender a aprender", uma habilidade que considera essencial para a pesquisa e que moldou sua abordagem como educador.
Retorno ao Brasil
Ao retornar ao Brasil em 1983, Vargas honrou o compromisso com a PUC-Rio, que havia financiado seus estudos, integrando-se ao programa de engenharia civil. Desde então, contribuiu para consolidar um núcleo robusto de geotecnia na instituição, ao lado de colegas também formados no exterior.
A partir de 1986, passou a atuar também no Departamento de Geologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), equilibrando ensino, orientação de dissertações e teses, publicações e algumas consultorias externas. Sua carreira acadêmica, que já soma décadas, reflete uma dedicação à disseminação do conhecimento, com um enfoque em conectar teoria e prática.
Trajetória no CBMR
O envolvimento de Vargas com o CBMR começou por meio da Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (ABMS) e de parcerias com profissionais do IPT, como Eda Quadros. Ele presidiu o CBMR motivado pelo incentivo de colegas. Durante sua gestão, buscou fortalecer os laços internacionais do Comitê, promovendo intercâmbios com instituições do Reino Unido, Alemanha e Portugal.
Explica, destacando que essa abertura evita a estagnação acadêmica e estimula a renovação. Eventos organizados pelo CBMR, como congressos e seminários, foram fundamentais para compartilhar conhecimento e integrar a comunidade técnica brasileira ao cenário global.
Vargas enxerga a mecânica das rochas como uma disciplina essencial, inicialmente ligada a grandes obras como a barragem de Itaipu, mas que ganhou nova relevância com a exploração de petróleo, especialmente no Rio de Janeiro, onde a Petrobras impulsionou avanços em poços e reservatórios. Ele reconhece o papel do CBMR em documentar essa evolução e promover a integração de profissionais de setores como mineração e petróleo, áreas que oferecem perspectivas promissoras para especialistas.
Aponta, contudo, limitações persistentes, como a escassez de laboratórios de ensaios de rochas no Brasil, devido aos altos custos e à falta de infraestrutura. Comparando com países avançados, que possuem laboratórios de ponta, ele cita o exemplo da China, com cerca de cem programas de pós-graduação em mecânica das rochas, contra apenas três ou quatro no Brasil, evidenciando a disparidade de investimento.
Desafio do Brasil
Para Vargas, o Brasil enfrenta um desafio estrutural: o baixo investimento em infraestrutura compromete a competitividade e o desenvolvimento da mecânica das rochas. Apesar do potencial do país, as ações realizadas são insuficientes frente às necessidades. Nesse contexto, entidades como a ABMS e o CBMR desempenham um papel vital ao manter conexões internacionais, publicar pesquisas e inserir o Brasil na comunidade técnica global. Ele destaca a importância de eventos e publicações para ampliar o alcance do conhecimento e fortalecer a presença brasileira no exterior.
Um ponto de preocupação para Vargas é o desinteresse dos jovens por carreiras em engenharia, particularmente em engenharia civil. Ele observa que áreas como inteligência artificial e ciência da computação atraem mais atenção, e sugere que cursos de engenharia poderiam ser mais curtos e dinâmicos para se tornarem mais atrativos. "Precisamos transmitir paixão e conhecimento às novas gerações", afirma, defendendo a necessidade de inspirar estudantes para garantir o futuro da geotecnia. Ele vê na educação um caminho para superar barreiras e manter a relevância da mecânica das rochas, especialmente em setores estratégicos como mineração e energia.
A trajetória de Eurípedes Vargas é um exemplo de compromisso com a ciência e a educação. Sua experiência no Imperial College, sua liderança no CBMR e sua longa atuação na PUC-Rio e UFRJ contribuíram decisivamente para a mecânica das rochas no Brasil, contribuindo para avanços técnicos e conexões globais. Com uma visão que combina otimismo e realismo, Vargas defende mais investimentos, modernização laboratorial e engajamento jovem para o fortalecimento da geotecnia brasileira.