Anna Laura Nunes: Uma trajetória de integração, inovação e compromisso com a geotecnia. Assista ao vídeo!

Anna Laura Nunes: Uma trajetória de integração, inovação e compromisso com a geotecnia. Assista ao vídeo!

Comitê Brasileiro de Mecânica das Rochas produziu e apresenta aqui uma série de entrevistas com alguns de seus ex-presidentes. A iniciativa é parte das comemorações dos 75 anos da ABMS e dos 60 anos do CBMR. A entrevistada desta vez é a engenheira Anna Laura Nunes, ex-presidente do Comitê. A atual presidente, professora Talita Miranda, faz a abertura  do vídeo. Assista aqui.

Trajetória

Anna Laura Nunes, renomada engenheira geotécnica e ex-presidente do Comitê Brasileiro de Mecânica das Rochas (CBMR), construiu uma carreira marcada pela superação de desafios e por contribuições significativas para a geotecnia no Brasil. Sua história reflete sua dedicação à engenharia civil, sua luta por integrar disciplinas, inspirar jovens alunos e enfrentar barreiras de gênero em um campo historicamente masculino. 

Filha de um engenheiro e irmã de outro, Anna Laura foi influenciada desde cedo pelo universo da engenharia. No vestibular, sua versatilidade a levou a ser aprovada em engenharia civil, medicina e comunicação visual. Embora tenha cursado um ano de comunicação visual, optou por se dedicar integralmente à engenharia civil na PUC-Rio, decisão da qual nunca se arrependeu.

 

 

 

 

 

 

Afirma, destacando o dinamismo que a área proporciona. 

Durante a graduação, Anna Laura se destacou ao cursar simultaneamente especializações em estruturas e geotecnia, algo inédito na época. Estagiou em recursos hídricos, buscando uma formação ampla, mas foi na geotecnia que encontrou sua verdadeira vocação.  

Ainda estudante, associou-se à Associação Brasileira de Mecânica dos Solos (ABMS), participando ativamente e cultivando sempre o relacionamento com colegas de profissão também vinculados à entidade. Sua escolha pela mecânica das rochas, em particular, veio do reconhecimento dos desafios e do potencial de desenvolvimento da área.  

Ela compara a mecânica dos solos, já consolidada, à juventude da mecânica das rochas, que só ganhou status oficial em 1961. Para Anna Laura, a prática geotécnica exige dominar ambos os materiais — solos e rochas. Por isso, ela defende uma abordagem integrada que se tornou uma marca de seu trabalho. 

A experiência internacional foi um marco em sua trajetória. Durante quatro anos, Anna Laura cursou o doutorado no Canadá, desenvolvendo sua tese em três universidades, com apoio de laboratórios especializados em ensaios mecânicos e modelos numéricos. Na Universidade de Ottawa e em uma instituição anglófona em Montreal, mergulhou na cultura canadense, convivendo exclusivamente com locais, o que enriqueceu tanto sua formação acadêmica quanto humana. "Foi uma vivência extremamente rica", lembra ela, destacando o equilíbrio entre aprendizado técnico e cultural. 

Retorno ao Brasil

Ao retornar ao Brasil, Anna Laura atuou como professora na PUC-Rio, trabalhando em laboratório e lecionando. Convidada por colegas, mudou-se para Porto Alegre, onde atuou na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) de 1998 a 2003. Apesar de receios sobre sua adaptação ao Sul, a experiência foi marcante, com amizades duradouras e avanços em pesquisa. De volta ao Rio de Janeiro, assumiu uma posição na COPPE-UFRJ, onde permanece até hoje, embora planeje encerrar suas atividades acadêmicas em breve. 

Mesmo seguindo a carreira acadêmica, Anna Laura nunca se afastou da indústria. Desde cedo, participou de consultorias e projetos, inclusive no Canadá, onde recusou uma proposta tentadora de uma empresa para honrar compromissos com a PUC-Rio e sua família.  

Sua habilidade em equilibrar academia e prática se reflete em sua filosofia de transformar problemas reais das empresas em oportunidades de pesquisa.

 

 

 

 

 

 

Diz ela, destacando como parcerias com o setor privado viabilizaram projetos em um contexto de escassez de recursos para a ciência no Brasil. 

Moradora do Rio de Janeiro, Anna Laura vê a cidade como um "laboratório natural" para a geotecnia. A geografia carioca, com suas formações rochosas complexas, é uma ferramenta pedagógica em suas aulas. Ela incentiva alunos a observarem criticamente o entorno, usando até o trajeto até a universidade como aula prática.  

A estabilização de encostas, especialmente em comunidades vulneráveis, é uma causa que Anna Laura abraça com paixão. Ela destaca o trabalho da Geo-Rio e a importância da prevenção, relembrando projetos em mais de 12 favelas cariocas, muitos interrompidos por falta de recursos. O caso do Morro da Oficina, onde elaborou 17 projetos antes do desastre de 2022, é um exemplo doloroso dos desafios enfrentados.

 

 

 

 

 

 

Afirma, reforçando que, apesar dos avanços tecnológicos, a experiência continua insubstituível. 

Como educadora, Anna Laura se dedica à formação de novos engenheiros geotécnicos, reconhecendo os desafios impostos pelo clima tropical e pela escala continental do Brasil. Para ela, a geotecnia é uma área que nunca se repete: "Nunca vi um caso igual ao outro. Não há espaço para tédio." Com humor, ela conta que, em momentos difíceis, "invoca" mestres como Karl Terzaghi e Paulo Cruz em busca de inspiração. 

Anna Laura também deixa claro que geotecnia é um campo amplo, englobando mecânica dos solos, mecânica das rochas e geologia de engenharia. Durante sua gestão no CBMR, lutou contra o preconceito que separava essas disciplinas, promovendo a integração com a ABMS. Um marco foi unir o Simpósio Brasileiro de Mecânica das Rochas ao Cobramseg, fortalecendo eventos conjuntos.

 

 

 

 

 

 

 

Diz ela, orgulhosa do legado construído. 

Preocupada com o futuro, Anna Laura busca atrair jovens para a geotecnia, sugerindo eventos que mostrem múltiplas perspectivas de um projeto para enriquecer o aprendizado. Ela reflete sobre as mudanças no ensino pós-pandemia, defendendo que as universidades devem se adaptar às novas gerações. "Precisamos sair da caixinha — ou do caixão", brinca, enfatizando a importância de escutar os jovens. 

Cenário internacional

No cenário internacional, Anna Laura celebra a representatividade do Brasil na International Society of Rock Mechanics (ISRM), destacando nomes como Eda Quadros, Paulo Cruz, Willy Lacerda e Sérgio Fontoura. Sua mensagem aos que desejam seguir na geotecnia é direta: "Se você gosta de desafios e do inédito, essa é a área certa." Gratificante, mas exigente, a carreira oferece realização a quem se dedica ao estudo contínuo. 

Anna Laura é reconhecida como inspiração para colegas experientes e jovens engenheiros, especialmente mulheres. Em um campo onde enfrentou machismo e foi uma das poucas mulheres de sua turma a persistir, sua trajetória é um testemunho de resiliência. Homenageando colegas como Paulo Cruz, ela deixa uma história de integração, inovação e compromisso com a geotecnia brasileira. 

 

Assista à entrevista completa: